Eu cansei de viver em busca de algo que nunca parece estar ao alcance. Se você é mulher e está lendo isso, talvez consiga se identificar, porque a sensação de insatisfação parece estar em tudo que fazemos. Para muitas de nós, a vida é um ciclo constante de desconforto, algo que fomos condicionadas a viver, talvez por séculos.
A mulher sempre se sente insatisfeita: com a própria aparência, com o corpo, com as outras mulheres, com os homens ao seu redor — seja o pai, o irmão ou o parceiro. E eu não estou dizendo isso por mera opinião; é uma observação que venho fazendo ao longo dos anos. Desde os 12 anos, sou uma leitora ávida e, ao longo do tempo, percebi um padrão: as mulheres nas histórias mais clássicas da literatura são, muitas vezes, retratadas como insatisfeitas.
Madame Bovary, por exemplo, não estava satisfeita com sua vida e, no final, isso a levou a tomar decisões que a destruíram. A mesma insatisfação está presente em muitas outras figuras femininas da literatura: a Capitu de Dom Casmurro, a Elizabeth Bennet de Razão e Sensibilidade, e até Ana Karenina, que é o foco de minha reflexão agora. Ela é uma mulher que, aparentemente, tem tudo: um bom casamento, status, respeito… mas sente-se vazia. Ela cai no encantamento de um homem que, na verdade, não tem nada de valor, mas promete algo que ela pensa que falta em sua vida. No fim, ela troca sua vida por um sonho ilusório.
Isso é o que acontece com muitas de nós, e não se trata apenas da insatisfação com a vida amorosa, mas da insatisfação com o próprio ser. Nós, mulheres, fomos educadas para querer mais, sempre mais, sem nunca realmente encontrar paz no que já temos. O que nos disseram o tempo todo é que a felicidade viria com o “perfeito”. Um corpo perfeito, um homem perfeito, uma carreira perfeita, uma vida perfeita. E, na busca por isso, nos tornamos cada vez mais insatisfeitas.
Mas será que, em toda essa busca, não estamos nos perdendo? Será que não estamos nos tornando reféns de um imaginário que nos diz que nunca somos boas o suficiente? Que sempre há algo para mudar? O que é que realmente queremos de nós mesmas e dos outros? E por que, tantas vezes, nos deixamos levar por um ideal que nos faz sentir incompletas?
Esse é um padrão que vejo em muitas mulheres: a constante crítica à própria aparência, ao corpo, ao comportamento, à vida. E a insatisfação transborda não apenas para dentro, mas também para fora. O que acontece quando as mulheres se tornam tão críticas umas com as outras, se colocando em uma competição constante, em um julgamento diário sobre o que é bonito, o que é certo, o que é aceitável? Se você se aceitar, alguém vai apontar que deveria ser diferente. Se você mudar, alguém vai dizer que não deveria. A insatisfação nunca termina.
No entanto, a verdadeira questão é: como podemos sair desse ciclo? Como podemos parar de nos criticar, de nos comparar, de viver para agradar aos outros ou às expectativas de uma sociedade que nunca está satisfeita? A resposta não está em seguir um padrão imposto. A resposta está em aprender a nos aceitar como somos, a respeitar nossos próprios limites e, mais importante, a questionar o que realmente nos faz felizes. Não o que nos dizem que deve nos fazer felizes.
Eu não tenho todas as respostas. Mas talvez a verdadeira paz venha da aceitação. Da aceitação de que não somos perfeitas, de que nossos corpos não são moldados para agradar a um ideal irreal. E, principalmente, de que a felicidade não está em atingir um padrão, mas em encontrar contentamento nas nossas próprias escolhas, na nossa verdade e no nosso ser mais autêntico.
A insatisfação é uma armadilha que nos foi imposta ao longo da história. Se conseguirmos perceber isso, podemos começar a buscar a paz interna, deixando de lado a pressão por um ideal que, no fim das contas, nunca nos trará satisfação verdadeira. A verdadeira liberdade está na aceitação de quem somos, sem as máscaras que a sociedade tenta nos colocar.
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